"A minha escrita permeia sentidos românticos,

restaura a solitude e acolhe a beleza da vida

para ser-te Poesia."

Marli Franco


O Olhar da Terra

 



 O Olhar da Terra


Suplica a criança o amor da terra mãe
Na posição fetal, aconchegado nas trincas do seio.
Dobra a coluna, sem sustentação, a vida flagrada
Exposta com a vergonha do abandono do homem
Que cego, finge ignorar o abalo do mundo.
A face bebe na terra silenciosa, o cálice da tristeza.


A inocência se entrega às feras da dor aceitando o destino.
Leva o escudo da crença da tribo na nudez do mundo vil.
Visível apenas aos olhos da ave, de instinto mais honrado
Que paciente olha estagnada, na espera da providência divina.
Quando a estrela da vida voa desta miséria absurda
Libertando o espírito, do cárcere material.


Transparece nas vértebras marcadas da pele
O suporte frágil do corpo, de alma pura.
O último sopro de dignidade rumo à luz
Surge na bagagem da estória de tantas vidas
Aprimoradas, nas contas brancas de colares e pulseiras.
A herança marcada nas algemas do corpo que massacra.


Focaliza o urubu, a imagem na vista dos homens cegos
Que finge apenas assistir a dor do flagelo, na ignorância.
Enquanto ele aguarda o desígnio do céu para voar.
Em desalinho, limpando o rastro do corpo exposto.
Dando a mãe terra, a renovação eliminando o flagelo da dor.
Do amontoado de vermes que espancam os corpos infantis.


O homem, no templo interno do seu conhecimento, nada entende...
O tempo aciona os ponteiros na foto do espectador urubu.
Como a límpida água, a imagem segue o perfeito curso da natureza.
Aproxima o momento de olhar...
Que o espírito milenar, liberta...
Na luz infinita da paz...

Marli Franco
Direitos Autorais Reservados®




Poema inspirado na imagem  da
 criança e o abutre  do fotógrafo sul-africano Kevin Carter



  Tradução feita pela Poeta Imortal Rosa Buk, do Fórun Poesia Pura.
Foi uma honra receber esta tradução  da imortal Poeta
que uniu nossos idiomas em Poesia.

 

A Mirada de la Tierra

Suplica el niño el amor de la tierra madre
En la posición fetal, acongojado en los tríos del seno.
Dobla la columna, sin sustentación, la vida flagrada.
Expuesta con la vergüenza del abandono del hombre
Que invidente, finge ignorar el temblor del mundo.
La faz bebe en la tierra silenciosa, el cáliz de la tristeza.


La inocencia se entrega a las fieras del dolor, aceptando el destino.
Lleva el escudo de la creencia de la tribu, en la desnudez del mundo vil.
Visible sólo a los ojos de la ave, de instinto más honrado.
Que paciente mira estancada, en la espera de la providencia divina.
Cuando la estrella de la vida vuela de esta miseria absurda
Liberando el espíritu, de la cárcel material.


Se transparenta en las vértebras marcadas de la piel
El soporte frágil del cuerpo, de alma pura.
El último soplo de dignidad rumbo la luz
Surge en el equipaje de la historia de tantas vidas
Mejoradas, en las cuentas blancas de collares y pulseras.
La herencia marcada en las esposas del cuerpo que masacra.


Focaliza el urubu, la imagen en la vista de los hombres ciegos.
Que finge sólo asistir el dolor del flagelo, en la ignorancia.
Mientras él aguarda el designio del cielo para volar.
En desalineo, limpiando el rastro del cuerpo expuesto.
Dando la madre tierra, la renovación eliminando el flagelo del dolor.
Del amontonado de gusanos que carcomen los cuerpos infantiles.


El hombre, en el templo interno de su conocimiento, nada entiende...
El tiempo acciona los punteros en la foto del espectador urubu.
Como la límpida agua, la imagen sigue el perfecto curso de la naturaleza.
Se aproxima el momento de mirar...
Que el espíritu milenario, libere...
En la luz infinita de la paz...








Conto * O Olhar e a Sala- Capítulo III.......Outono


O Olhar e a Sala

Capítulo III.......Outono

 

O outono se apresenta rondando a primavera, os dias vãos morosamente voando ao encontro das flores.

A sala anda esquecida, sem visitas apenas o silencio companheiro do cotidiano.

Tem uma caneta que foi esquecida, e o papel ainda tem letras voando nas linhas.

Do vaso vem o perfume de gerânios como se tivessem sido colhidos neste exato momento.

A cortina está sempre na espera ansiosa do olhar que proporciona seus encontros felizes com o rei Sol que aquece seus sonhos.

A sala nesta fase se embriaga de fantasia, o jardim lá fora já despontar as violetas, madressilvas, rosas e margaridas.

As borboletas fazem a dança anunciando que logo chega a sua estação.

O olhar desta vez foi intempestivo, nem parou na mesa que enciumada viu bem sua direção para arca.

A cortina deu seu agito, mas o olhar fez da sala apenas uma passagem. Seu mundo interior perdeu o canal das letras no meio da sobrecarga.

O refúgio da sala ficou aprisionado na realidade da lógica. O real veio como uma enxurrada lamacenta manchando todo sonho. Tragando a ilusão, impondo seus pontos desconexos, que aterrorizam a delicadeza das verdes íris. As lembranças estão no ar pedindo pelos versos, mas a caneta esta jogada amedrontada, tem medo das correntes rimadas e das fitas da métrica que sem licença amordaçam suas estrofes.

O abstrato teve só um segundo do tempo para voar. Pousar no recanto escolhido, sair fugindo antes que perdesse as forças e fechasse a porta para voar nas linhas da poesia...

 


O olhar esgueira na sala

Silencioso no fundo da alma

O toque delicado soa no assoalho

A mesa enciumada nota a presença.

 

Sem o sorriso fecha a cortina

Nem fresta da janela permite

Para revolta do vento e do sol

Que se unem na busca da amada

 

O dia de hoje a metade já alcançou

É tempo de abrir as gavetas da arca

Que isolada na sala se faz de soberana

Revela os mistérios do senhor do tempo.

 

Sem pressa alisa o puxador

Abre paulatinamente escutando o rangido do tempo

Encontram fitas, fotos e papeis descansando

Cúmplices do tempo usado e amarelado.

 

As mãos tremulam tocam timidamente

Percorre o espaço das gavetas sem pressa

A nostalgia embarga o pensamento

A cortina se mexe pedindo ar.

 

Na tormenta das lembranças

Deixam o olhar as gavetas

Abre as janelas para o sol e o vento

Sai apressado fechando a porta do esquecimento.

 

Marli Franco

Direitos Autorais Reservados®




Conto * O Olhar e a Sala --capítulo II......Refúgio




O Olhar e a Sala

Capítulo II......Refúgio

 

O olhar surge na sala com a melodia do imprevisto. Surpreendendo alegremente a mobília, na calma costumeira do espaço requintado.

Em uma destas visitas, o olhar agora toma a sala como seu refúgio aconchegante, onde pode livremente mergulhar na essência da escrita.

Na sinfonia do silêncio que embala o recinto, o olhar abre a gaveta agora sua cúmplice que guarda seus segredos. Esconde ainda suas ferramentas amareladas pelo tempo. Que servem para cingir as letras na magia do pensamento.

No meio das tardes de inverno é que o olhar foge para sala. Assiste delirante a preguiçosa dança enamorada da cortina com o vento que de longas datas, vem crescendo o enlevo. Como todo caso clandestino o olhar percebeu o triângulo amoroso deste namoro. Quando faceira a cortina, para suplício do vento alonga sua amizade com o sol ...no doce calor do inverno.

As horas passadas na sala são doces momentos de reclusão deste olhar, de encontros sublimes com a imaginação que rege o tempo fora de órbita natural.

O tempo que sempre faz suas marcas assinala suas estórias pintadas nas mil faces da emoção. E neste aconchego da tarde marota, vai passando, envolvendo, acariciando o encontro harmonizado do olhar displicente com os versos da vida nas linhas da prosa e da poesia.

Quando o relógio toca sua badalada, o olhar guarda seus segredos, dobrado nos papéis amarelados. Coloca para adormecer as ferramentas, na gaveta seu cofre secreto e joga um beijo cúmplice para cortina. Que sabe é chegada à hora de ser fechada a janela, com seus amores lá fora... Até um outro momento da sua visita.

A sala agora já contém outra faceta, seu visitante este mais assíduo à medida que a poesia ou a prosa aprisionam seu coração. A sua fuga fica com intervalos mais curtos a cada dia que passa ele se torna parte da sala; como a mobília ainda que não saiba deste único segredo da estória.

A mobília já se acostumou com seus passos suaves e sabe que o visitante um dia irá tocar com seu olhar outros cantos adormecidos da sala de jantar. E a sala por sua vez irá ainda desvendar o seu olhar além imensidão do seu sonhar.

A porta range no silêncio... O olhar lança o sorriso costumeiro ...Vai saindo, com os passos leves da promessa que no imprevisto do tempo voltará...

Deixando em seu rastro, agora na sala vazia, com perfume da poesia pairando no ar...

Entra o vento de surpresa

Quando aberta fica a janela

Abraça ansiosa a cortina

Que faceira se entrega na alegria.

 

Sem preâmbulos a arfar de amor

O vento contorna todos os adornos do tecido

Afugenta todos os silêncios estagnados

Na melodia do seu infinito desejo.

 

A cortina sem perceber se solta

Na cadência da suave melodia

Que o vento beija tocando

As dobras do tecido acetinado.

 

Quando o sol assistindo a tudo ciumento

Acaba infiltrando neste namoro

Esconde-se rápido no horizonte

Para que a janela na hora do poente se feche

Separando assim, o vento da amada cortina

Sua única poesia em cada nascer do dia.

 Marli Franco

Direitos Autorais Reservados®











Conto * Olhar e a Sala- Capítulo I - Espaço Irreal

O Olhar e a Sala-

 Capítulo I - Espaço Irreal

 Um olhar descuidado invade um espaço irreal, pousando em uma sala fora de época. Marli Franco

A sala é aberta sem pudores, sob o panorama da íris verdes. Livre e sem licença inspeciona entusiástico o cômodo de cortinas fechadas, que dorme na penumbra perdendo o sol do outono lá fora.

O móvel de madeira nobre como pouco se vê tudo cravejado e esculpido.

Um tapete com ares orientais segura a mesa de imbuía. Onde junto descansam as cadeiras com sua suntuosidade das guardas altas, revelando que nelas os ilustres se sentaram.

O carrilhão mostra bem a passagem do tempo e o torna mais rico como peça importante de um antiquário.

No lado da mesa esta sua majestade a “Arca” toda rebuscada em um rococó perfeito, suas saliências são orgulho e sua madeira exala o perfume das estórias já vividas.

Nas suas gavetas abertas, no afã do mistério, o linho branco e bordado com certeza salienta a elegância do recinto.

Os copos de cristais ampliam o olhar do visitante imaginando os brindes ali registrados.

A porcelana delicada e fina fecha o requinte das relíquias que se mostram no alto do silêncio.

A mesa é a imperatriz no centro da sala. Faz-se de rainha carrega a coroa de um vaso com suas flores, na postura de um desafio mudo; pontuando que a sala tem um dirigente vigilante para todos que nela adentrarem, mesmo que apenas com um simples olhar deslocado.

Um raio de sol penetra, investiga rasgando pela janela a penumbra com ajuda do vento seu fiel escudeiro. Beija as margaridas e jasmins do vaso e foge matreiro sob o olhar ciumento do guardião, o cinzeiro.

O vento lança ainda antes da partida, um olhar de cobiça na cortina. E dissimulado afaga brincalhão. Movendo o tecido de renda, que brilha do alto dos trilhos caindo em cascata no seu branco virginal até o chão.

A sala magnífica continua estática depois de cada badalada, linda como uma rosa.

Mas sem o alimento da vida fica assim... Como pétalas desfolhadas, esperando serem colhidas por mãos amorosas. Que nelas venham beber, o licor da vida em seu interior.

O olhar de esmeralda, meticuloso, depois de respirar a magia de uma época longínqua, sai fechando a porta silenciosamente.

Deixa para traz apenas um sorriso de deslumbramento com tanta beleza.

A sala sorrateiramente, sem deixar o olhar perceber, rapta o sorriso doce.

E guarda no cristal das folhas secas, para ser mais um aroma, das muitas estórias ali registradas.

Marli Franco 
Direitos Autorais Reservados®