Passeio
no Píer
A
prosa chega quando sentada me encontra no píer da vida...
Olho o céu tão azul dando sorrisos ao mar enquanto as gaivotas brincam com suas
asas colorindo, entre o céu e o mar, o ar da vida. Os meus pés brincam nus nas
águas azuis deste mar manhoso, que neste momento assiste o voo das gaivotas.
Suas ondas surgem macias com riscos de espumas brilhando ao sol. O olhar vaga
passeando entre o céu e a terra, com vontade de emergir no horizonte em busca
de ilusões distantes.
O dia passa vagarosamente, com preguiça sem a pressa das horas, que parecem ter
ido embora deixando a natureza livre para reinar. Eu neste mundo tão particular
me entrego neste azul, respirando o banho das cores e sentindo a brisa em
respingos do mar molhar meu vestido. Um momento íntimo onde o paraíso parece
descer dos céus para brindar a terra. Lembro dos meus desejos tão secretos, das
sensações que trago tão escondido, dos meus pedidos silenciosos que povoam este
universo tão meu. Se alguém olhasse nesta imagem talvez em uma fresta de azul
pudesse ver os segredos tão ternos e ao mesmo tempo tão lascivos, voando nestas
nuvens abertas. O meu corpo ainda palpita em sensações que agitam os meus
detalhes mais cobertos, sem que ninguém perceba meu espaço interno; que ainda
me leva em grandes alturas e quantos sonhos perfeitos desfilam dentro de mim...
O fim da tarde chega ainda brincando no meu rosto, o vento desabotoa meu
vestido deixando seu perfume no vão entre a ver no colo dos meus seios. É neste
momento de suprema serenidade que você se aproxima sem licença, invadindo meu
espaço num olhar ousado. Desprevenida em meu devaneio surges além da fresta de
nuvens, se materializa no cenário como um toque de magia. Senta-se tão próximo
e calado acompanha o movimento dos meus pés na água. Olhas inquisitivamente
como quem sabe e conhece bem meus pensamentos. Sinto que reparas no vestido
coberto de respingos de água, que cola em meu corpo deixando moldada a minha
silhueta. Senta-se ao lado, fixa teu olhar acompanhando o movimento dos meus
pés ainda submersos na água. Recolho ligeiro este movimento, insegura, tentando
manter-me distante. Mas a tua audácia e ousadia com força movimentam as águas,
com o balanço dos teus pés que espirram mais gotas em minha saia rodada. O
vento teu cúmplice auxilia na façanha e sem limites levanta a beirada da saia,
deixando teu olhar aguçado na brincadeira silenciosa derramar o sorriso em teus
lábios.
Sem muito pensar, apenas em impulso tentando fugir da situação levanto-me
bruscamente e neste misto de ansiedade com perturbação é que escorrego no píer
caindo sobre teu corpo. Paralisada na ação, com o olhar buscando um refúgio,
teus braços movimentam acolhendo-me em um doce abrigo. Em uma perfeita
conjugação de contornos unidos, ficam sem que nenhum dos dois mude o prelúdio
que se instala. As emoções estremecem nossos corpos de onde flui a energia da
alquimia. Somos dois em um, as palavras são desnecessárias o corpo tem todas as
falas. O teu olhar penetra nos meus em uma mistura de parcerias tuas mãos se
tornam ondas arrastando –me em profundos mares que me entrego vencida,
extasiada dentro do clima.
Permito-te todas as ações e te envolvo em todas as emoções. Surpreendes com
minha ternura e minha sensualidade, unidas desencadeando em tuas íntimas
sensações vorazes deixando-o perder o controle do tempo e do espaço. Nossos
desejos atingem patamares inviáveis no píer, recobrar o controle já se torna impossível.
Vejo em teus olhos a razão mostrando que vais me levar para teu covil, que sua
presa serei sem outra opção tanto quanto você pertence aos meus braços e deles
já não quer mais sair.
Levantas e me carregas em seus braços, sem pressa absorve um abraço,
colocando-me na sua frente. Nossos corpos são peças que se encaixam com
perfeição, nesta utopia teus olhares ainda mergulham no meu. Sabemos de todos
nossos silêncios na paixão clamados de amor na união.
O sol vai se pondo no horizonte, as gaivotas soam avisando que o tempo até
então parado a nossa volta está para retornar, tuas mãos tocam meu rosto para a
suavidade do momento marcar em meus lábios o movimento sublime de um beijo...
O píer continua ali parado, vazio olhando céu e o mar...
Marli
Franco
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