"A minha escrita permeia sentidos românticos,

restaura a solitude e acolhe a beleza da vida

para ser-te Poesia."

Marli Franco


Passeia em mim a saudade...



Passeia em mim a saudade...


Nas retas e curvas do meu mundo íntimo, no meu castelo erguido e colocado abaixo, nas muralhas e jardins refeitos e nos pentagramas das torres os efeitos do meu ser na arte da criação.
No silencio existe uma tela em mim... As cores fluindo inspirações da saudade que me veste, da nostalgia que me enfeita. Sinto tão bem os matizes do meu interior onde as tonalidades são de tempo em tempo abstraídas, constantemente concretizadas como auroras surgindo e crepúsculos se perdendo em noites de verão.
No silencio existe um piano que me chama... Os toques suaves que vão penetrando numa profundidade alarmante, colocando meu ser em contato sublime com a inspiração. A arte fala em notas, a musica d’alma leve e forte, o silencio que desliza danças no corpo abraça melodia, gira e me faz gravitar em mim mesma...
A saudade então chega no silencio... Congela o momento, se aproxima com passos de luar nesta hora e se veste de rosas... O teclado já não possui letra só sentimentos, aconchegos de chegadas, partidas esquecidas, só presente em alegrias, só laços de euforia e fractais... E fractais de amor... Quando sinto as paredes do meu eu romperem em jardim e você se aproximar de mim...
Então o silencio se acaba, o piano cala e só o amor faz a fala da saudade...
Marli Franco

Direitos Autorais Reservados®

No jardim um solo de cello...



No jardim um solo de cello...



O som vem de mansinho...
Leve como asas de borboletas, e vai assim voando na prosa do violoncelo brincando no meu jardim de ébano...
Deslizando como coloridos mosaicos sons leves pasteis.
Leves tintas na brisa caindo em notas no meu ser...
Leves como pássaros amarelos, o arco desliza nas cordas suavemente, docemente... Muito docemente...
Olho a minha volta e sinto as quatro cordas do som na cor das rosas e jasmins, variantes das claves, o tudo dos lírios e o mundo das oitavas falas. O principio do instrumental até o fim do solo perfeito.
No meio da complexidade das cordas a vibração do sentir, que chamam as hortelãs para mergulharem e voltar o meu centro. O profundo da minha harmonia, na consonância.
O ar torna suspiro novamente rarefeito e tão suave é meu corpo no ostracismo do som aperolado...
O templo de tons de aquarelas e pautas acrílicas, além delas existe a muralha de brumas intransponíveis...
Muralha construída de pedra em pedra ao som do monstro.
Sangrando as mãos em cada bloco de oitava erguido, bem niveladas, no ponto certo afinadas, no limiar perfeito e alto, alto até o infinito transparente do meu desejo...
O meu mundo esta assim de bem comigo de onde gera o meu cello poético.
O ventre da natureza canta o nascer e renascer, me toca com as notas livres da música, como asas de mosaicos voando no meu jardim particular, flores muitas em cada acorde me carregam na infinitude dos sentimentos.
Noite de doce calor, primaveril com cordas me falando segredos afinados em quintas.
No jardim um solo de cello...
Marli Franco
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Primavera Alaranjada






Primavera Alaranjada


O tempo está parado, não o ar sim está parado, estagnado...

A vida desfila no meio do calor sem muita exuberância, buzinas ruidosas, poeira acinzentada dos carros, e calor subindo do asfalto.

O cotidiano é que está em alta nesta segunda abarrotada de idas e vindas, no passeio do asfalto da metrópole. Alguém corre da direita, outro se agita na esquerda, crianças se agarram nas mães, sorrisos se misturam com lágrimas dos pequenos, gargalhadas de jovens em voltas de livros servindo de sombra para esconder do sol, adultos apressam o passo parecem esquecidos correndo no meio de algo inatingível...É a cidade respirando sem parar primavera que mais parece verão...

O calor é sufocante, a primavera tem cor alaranjada, pede uma Coca-Cola, sorvete, guaraná, água tudo bem gelada e o céu nem se importa com seu azul anil neste dia tão quente. O céu parece querer só brincar com as nuvens, que também estão paradas, no ponto de observação, talvez esperando alguma ave para brincar.

À tarde se arrasta assim, sufocando os pedestres no meio da avenida, o farol parece dormir o sono dos anjos no meio do barulho, deixando os carros passarem...Passarem ...E só este calor que não passa...Praia isso, uma simples sublimação, mar azul, mergulho...

O tempo se rompe, não funciona o ato de sublimar neste asfalto, no piscar do farol a tarde desperta deste caos. Com uma imagem simples, tudo se transforma, uma folha voando é lá está o vento que surge não sei de onde ajeitando todas as folhas das árvores e balançando minha saia...E eis que vejo o Amor aos Pedaços...Surgindo assim no letreiro tão de repente no passeio da calçada....

Uma parada no final da tarde, neste espaço tão convidativo para um ato leve, real, uma exagerada necessidade de fazer do dia uma delícia exuberante ...Com uma simples torta gelada, estupidamente doce, com sua cobertura fantástica de chocolate...

O vento agora é uma caricia e a torta uma ambrósia nesta segunda agitada, sem fim no meio da tarde.... No pedido adiciono uma bela música, claro o cenário de primavera perfeito com uma pitada de J.G.de Araújo Jorge. Fantástica segunda na capital que tem de tudo para melhorar até mesmo o calor ...

Ah! Lá está a ave, brincando de esconder nas nuvens que se deslocam no meio do vento matreiro.

 

 

Marli Franco

Direitos Autorais Reservados®



 


Conto * Aves Místicas I - A Caçada

Aves Místicas I
A caçada

Havia um mundo das aves, e de tempos em tempos a natureza permitia que elas não entrassem em extinção.
As aves uma vez por ano podiam se transformar em mulheres para o Betame comemorar e suas espécies assegurar.
Os caçadores eram necessários para procriação, um grupo era selecionado pelas leis do universo, unidos em um pelotão seguiam para a mata.
Um pelotão estava armado, cheio de garra indo para a mata fechada com intuito de fazer uma caçada, mal sabiam o que os aguardavam...
Em vez de ir à caça como pensavam, todos ali homens destemidos cheios de guarnições seriam apenas caçados e colocados à disposição pelas aves místicas.
Corria o boato por todo planeta que quando os caçadores vinham em busca de caça, as árvores avisavam todos os animais e eles logo faziam festa, pois a data era do Betame a festa da primavera. a festa profana da procriação.
Um misto de festa pagã acontecia onde macieiras floriam, suas flores no chão faziam a cama e o perfume delas um afrodisíaco natural deixava os caçadores imbuídos do dom original o Amor.
Os caçadores de nada sabiam, como loucos seus utensílios poliam, buscavam cada vez mais indumentárias, guarnições e tudo para serem precisos na pontaria da caçada.
Mas o que caçariam? Nem sabiam...
Era só um esporte, uma ação, um disparate qualquer para se unir, rir enfim relaxar...
Sem nada para pensar tal qual um jogo de futebol, uma bola e todos correndo dois extremos de muitos palavrões e muitas mães voando na arquibancada. Meninos crescidos, quanta paciência...
Alegres de botas seguiam adentrando o mundo da mata com suas armas.
No primeiro km um deles fazendo graça come uma fruta envenenada...
Estrebucha tanto que os outros pasmos olham pensando que é teatro. Então dando o famoso murro nas costas, destronca o pescoço do coitado, tal qual uma galinha atropelada na máquina de frango da padaria da esquina.
Quando descobrem que a coisa era mais seria as brilhantes idéias surgem: vamos dar cerveja o grande remédio, um mais elaborado manda dar uísque, o outro diz que não vamos dar vodca. Enfim depois de tantas idéias perfeitas vem um e resolve fazer o coitado vomitar...
Grande idéia surge novamente, dando um sapato pra cheirar, por ironia do destino o coitado assim foi salvo, todos aplaudiram e os lobos que ali rondavam também.
A caminhada continuou dias sem nada diferente, as aves olhavam e simplesmente achavam que o ano nada de bom prometia os deuses estavam contra alguma coisa. E aquele grupo especial o que prometia?
O melhor era mesmo passar o perfume das flores da macieira e aguardar, como as águas do rio que deslizam ao sabor da brisa.
Marli Franco
Direitos Autorais Reservados®



Abaixo   título do segundo capítulo


Aves Místicas II

A Conquista




Conto * Aves Místicas II - A Conquista


Aves Místicas II - Conquista

O universo com seu relógio impecável continuava girando...
Bem perto do lago das macieiras o grupo resolveu acampar, tentaram matar vários bichos, mas os animais se divertiram sem grandes dificuldades.
No dia do Betame à noite tudo estaria pronto, tudo corria preparado para os problemas corriqueiros, as listas estavam prontas nada poderia dar errado afinal a mãe natureza regia o planeta enquanto o universo se embevecia contando estrelas.
Quando o dia chegava ao fim os homens foram todos intuídos a tomar um belo banho, fato este que teve ajuda da senhora das águas que de quebra os perfumou com seus sândalos deixando cada um pomposo tal qual um marajá, já que em suas mentes aflorava a bela questão das mundanas paixões. Quando a brisa da noite chegou também deu um auxílio e deixou um vestígio em suas lembranças afloradas de amores perdidos, o que os levou a ficarem embevecidos pelo canto da lua...
Com tudo preparado à brisa ainda fez mais um toque começou carregar antes que o vento chegasse o suave perfume das flores de macieiras e com este aroma os caçadores foram guiados ao local mais venerado do Betame, o campo das macieiras.
Quando lá chegaram ficaram todos assombrados, as folhas e flores pendiam em cachos formando caramanchões enormes, no chão se estendia lençóis de flores e o perfume das maças dava um afrodisíaco inesquecível. Mudo os caçadores se arrepiaram e neste exato momento entraram no local onde ainda levitando as aves transformadas em mulheres, divindades pagãs pareciam etéreas, sorrindo tal qual as musas de tantos poemas um dia descritos.
Os caçadores não conseguiam absorver o que acontecia, a emoção sobrepujava a imaginação.
Um deles se prostrou diante da imagem e na mesma hora uma das aves o ergueu e levou para um dos caramanchões. Nesta hora surgiram do nada muitas fogueiras e muitas danças tomando conta do campo das macieiras, sorrisos e gemidos, brincadeiras anunciando a paixão se misturaram com as chamas crepitando as ilusões.
Enfim cada caçador foi levado por uma mulher, cada uma vestia uma capa de tecido diáfano da cor das tuas plumas, cada uma sorriu e amou seu caçador até chegada do sol, então elas se foram assim como os homens todos gostam, sumiram no céu azul sem eles verem mais nada...
Transformadas em aves novamente carregando as sementes da nova geração, da espécie em extinção o Homem feito de Amor e a Ave feita de puro Esplendor.

Marli Franco
Direitos Autorais Reservados®


Abaixo   título do primeiro capitulo 

Aves Místicas I

A caçada