"A minha escrita permeia sentidos românticos,

restaura a solitude e acolhe a beleza da vida

para ser-te Poesia."

Marli Franco


Amor Magno



Fabela -- O Leão e a Gazela II




 O Leão e a Gazela  II


A gazela estava a passear na savana
Era tão cedo, o sol ainda espreguiçava
A alvorada aquarelada no horizonte sumia...
Quando percebeu a gazela seu velho predador.

Não havia duvida, conhecia o seu fiel algoz
Tinha seu rastro gravado a leveza e a esperteza
Sabia bem o seu jogo, seu rosnado e sua corrida
Já o tivera em seu calço, ele tinha dado uma trégua...
Mas agora pelo visto voltava, com a barriga vazia.

Não ia ser ela o prato do dia, com calma ia fugir...
Deixava-o na espreita, ia fingir ir ao riacho, iludir...
Depois correr desgarrada para a mata fervilhando,
Até perder seu predador de vista, tudo rápido e planejado.

Mas o dia nada tinha determinado como pensara...
Ao fingir beber água um buraco no riacho encontrou,
Bem ali sua perna quebrou, que final mais tonto e louco...
Além de virar prato do dia do leão, estaria na bandeja,
Na bandeja do apetite voraz do leão sem outra solução.

Surpreendem-se mais uma vez com o dia, ao ver o leão
Vindo calmo em sua direção, passo firme olhos brilhando...
Olhou, fungou e puxou-a do buraco com ela petrificada.
Pegou sua perna, lambeu e abocanhou o osso puxando...
Colocou no lugar a perna, enquanto ela era só gemido.

O leão examinou-a, deixando sua juba esfregar na perna ferida.
Lambeu e mergulhou no infinito do seu pavor com seu olhar brilhante...
E sem mais rosnou, para que ela que dali sumisse, sem perguntas.
Afinal, ele era o leão, não o anjo do dia na savana ardente.
Um prato sem o gosto da caça é comida sem tempero, insossa...
Outro dia ele a pegaria na corrida excitante, estimulante de sempre...
Flamejante, no vôo da gazela na savana arfante.

Ou quem sabe como tantas vezes já fizera...
Deixaria ir só pra tê-la novamente, voando
Em outro amanhecer perfumando o ar,
Com a beleza da sua corrida na savana .
A corrida que tem o dom de explodir seu ser,
De ser o rei da selva desejoso da bela gazela.


Marli Franco 
Direitos Autorais Reservados®



Conto * Olhar e a Sala ...CapítuloVI...Sinfonia de um Beijo






Olhar e a Sala    

 Capítulo VI - Sinfonia de um Beijo

 

A sala encontrava-se adormecida em uma fresta da lua. O raio do luar mostrava que as estrelas estavam alertas ao evento que se preparava para desenrolar.

O silencio era quebrado apenas com alguns passos ansiosos, as botas faziam ranger o assoalho. Quando a imagem atravessava a luz da lua, distinguia-se apenas a roupa negra como a noite.

O invasor dono da sala, era quem se agitava na escuridão, mostrando sua inquietude ao relógio cujos ponteiros alheios andavam acelerando o tempo.

As horas passavam e seus passos ansiosos, iam e voltavam conscientes da audácia da íris em seu atraso.

Em um dado momento, ouviu passos suaves que corriam no corredor lá fora. Nem precisava olhar conhecia bem aquela suavidade que voava como uma borboleta amedrontada.

O momento de dar a desforra, pelo atraso havia chegado e a escuridão da sala era propícia ao seu intento.

Esperou estrategicamente a íris chegar bem junto da porta, como cúmplice tinha o elemento surpresa. Quando ouviu o trinco ceder chegou o momento exato da sua ação. Abriu a porta rapidamente e agarrou as mãos pequenas; puxando contra seu peito o corpo leve, levando um choque inesperado com o toque!

As suas mãos surpreenderam –se com a suavidade, contornaram a cintura trazendo o corpo mais próximo de si. A luz da lua brilhava mostrando os fios dourados da veste, véus que davam toda leveza e sutil transparência...A máscara apenas moldava os olhos destacando as írises verdes brilhando como um mar agitado. E os lábios vermelhos prontos para beijar num convite irresistível.

No calor do momento a íris suspensa na escuridão sentiu quando seus lábios foram tragados em uma onda de paixão. Retribuiu ao calor com a mesma intensidade, se entregando ao torpor do momento.

As mãos firmes em seu corpo eram como correntes tornando-a cativa da paixão alucinante. O corpo que a envolvia era como asas de um falcão que a levava como presa nas alturas da sedução.

E mesmo cativa sentiu, quando seu algoz perdeu a razão do domínio, se entregou nas imensidões do calor do beijo intenso...

O falcão voava nos véus, roçando as suas mãos na busca da pele que o perfume lhe inebriava, enquanto o beijo tinha o sabor do interminável prazer.

O tempo avisou nas badaladas do relógio que o tempo tinha que ser rompido, prolongar a entrega seria um passeio sem volta. O invasor sentiu que este seria o momento, de parar ou a necessidade da posse chegaria ao limiar, do insustentável desejo que alucina o ser...

Era um querer mais e mais, quanto mais sentia o calor do beijo maior o desejo de completar o sonho. O corpo flamejava, como a libido fora ativada em tal patamar se tudo tinha sido iniciado apenas como um castigo pelo atraso. E agora o castigo se invertia, pois desprender-se dos lábios seria a punição maior do desejo incompleto, o desejo de ficar com a íris em um tempo interminável nos braços e acalentar todos os sonhos mais loucos num misto de punição em forma da mais simples consagração.

A íris que se entregou na avidez do invasor, voltou a si e interrompendo o momento fugindo da sala no meio da escuridão.

O baile terminara antes mesmo de começar a música, mas a partitura estava escrita com toda nobreza da paixão. A íris tivera o bom senso, ou apenas confirmara com sua fuga que a punição que ele agora recebia a ausência do perfume e o sabor do beijo.

A íris voltou a sumir com seus passos agitados no corredor do mesmo modo que chegara. Só que o coração pulsava descompassado...

E o invasor ficou a olhar as estrelas pela fresta, numa atitude franca de quem agora tinha uma nova reformulação. Um beijo, um único beijo colocava em terra sua liberdade e aventura, as viagens estavam todas jogadas no meio do nada...Cativo de um beijo se tornara...

Fugir ...Precisava fugir, respirar o ar de fora da sala, já que o perfume da íris ainda estava na sala e o deixava com o coração palpitando em agonia pela perda, a sede da paixão fora suspensa....

Fugir seria o suficiente para manter sua mente longe da íris e outros mares acalmariam seu mundo interno.

Como que anotando tudo a sala observava a corrida do invasor, levando seus pertences assustado em sua maleta clássica...

E assim a lua deixava na sala sua magia inacabada, como uma brincadeira do universo de mostrar a força dos sentimentos espalhada em estrelas de emoção aqui na terra....

 

Marli Franco
Direitos Autorais Reservados®


 


Conto * O Olhar e a Sala-Capítulo V --- O Convite



O Olhar e a Sala

Capítulo V - O Convite

 

 

A íris saiu em busca do seu refúgio no meio do dia, quando o sol estava em alta.

Sem pensar fazendo dos passos um voo, para poder aproveitar mais o tempo. Já que as horas tinham sempre o poder de ser mais rápidas, deixando apenas frações para suas andanças no meio das letras.

A íris parou diante da porta, ainda fechada, ajeitou os cabelos para demostrar equilíbrio ou recuperar o mesmo, que longe estava de sentir. E assim ainda agitada entrou na sala.

O invasor apenas olhou com um sorriso matreiro para ela e para o relógio mostrando que estava atrasada. Sorriu observando sua calma aparente.

A íris sentou-se em seu lugar, abriu a gaveta retirando seus papéis e a caneta, vendo que o tac..tac do pc voava. O seu olhar dirigiu-se ao invasor que capturou quase engolindo sua audácia. Agitaram-se mais as águas verdes e isso era impossível de esconder, ele já conhecia todas suas nuanças.

Silenciosa acabou por se concentrar na sua escrita, quando um envelope foi enviado deslizando na mesa. Sempre tudo no mais fantasmagórico silêncio.

Ela sabia que devia pegar, mas ficou como uma estátua, em um pedaço do tempo apenas para desafiar o invasor incisivo. Que simplesmente não esperou. Puxou sua mão sem palavra alguma num toque que até ele sentiu, mas quebrou a magia, colocando a carta na palma da sua mão.

Num gesto rápido e afobado ato o fez ficar sisudo, o choque do primeiro contato foi eletrizante, e suficiente para o olhar ficar acinzentado e ganhar o jogo desta vez.

O sorriso desafiava, apesar de meigo mas ciente do ocorrido as emoções do invasor existiam.

Resolveu não abusar da sorte, abriu a carta e ficou pasma ao ler. Era nada mais nada menos, que um convite para um baile de máscaras e seu para seria o invasor!!!

Quem sorriu agora em plena maldade fora ele, ficando à vontade na cadeira olhava-a sem pressa como um falcão analisando cada centímetro da sua presa ou seja do seu rosto. O jogo revertera em poucos segundos o convite aniquilara sua ousadia. Tudo parou até o tempo ao redor.

A sala apenas observava tudo consciente das emoções, que agora brincavam com seus dois hóspedes.

Há muito tempo que o espaço não sentia tanto glamour dos sentimentos, reviver estas sensações deixava a sala viva colorida em sua nobreza.

O sol já nem pensava mais em suas artes com o vento e a cortina, que passaram também a assistir o novo quadro que se pintava no local.

A mesa sentia toda vibração das mãos que pousavam em seu tampo, toques agitados, corridos, ansiosos.

O tapete sentia o compasso da mudança da posição dos pés, que em harmonia se mexiam em seus espaços em uma dança silenciosa e harmoniosa.

A arca muda apenas assistia, enquanto o vaso sobre a mesa sorria antevendo todas as fantasias ali traçadas nas linhas do pc ou nas linhas do papel que agora mudavam invadindo espaços ora na prosa ora na poesia. Ainda escondidos o pc se deixava levar pelas mãos da brisa voando em versos enquanto o vento agitava o papel rodopiando nos caminhos da prosa. Depois quando tudo serenava os dois hóspedes voltavam a desfilar cada um em sua melodia o invasor na prosa e o olhar esverdeado na poesia.

O relógio aponta a hora, novamente o tempo fica curto, os papéis são guardados na gaveta apressadamente, na agitação dos segundos o convite acaba caindo.

O invasor se coloca obstruindo o caminho, pega o convite com a caneta assinala o horário mostrando que não admite atrasos.

E tentando mostrar que tem a força, dobra o convite nas mãos do olhar e as fecha alisando numa atitude de pura audácia prendendo entre as suas num tempo a mais do relógio.

O toque é suave e aquece ambos que estáticos se prendem a olhar ambos o envolvimento das mãos.

A íris lança faíscas do mais puro verde, e foge ainda sentindo a sonora gargalhada da brincadeira ousada do invasor que mais parece um enigmático falcão.

Longe do poder do invasor o olhar respira compassadamente, pensando agora como ir neste baile do qual não pode fugir e como estaria fantasiado o invasor?

Mas tudo isso é algo para pensar em um outro momento quando o tempo em sua lacuna deixar a íris viajar em mais uma aventura.

Enquanto isso o desfile da prosa e da poesia fica no ar até o tempo certo aparecer ...

 

Marli Franco

Direitos Autorais Reservados®