O Olhar e a Sala
Capítulo V - O Convite
A íris saiu em busca do seu refúgio no meio do dia,
quando o sol estava em alta.
Sem pensar fazendo dos passos um voo, para poder
aproveitar mais o tempo. Já que as horas tinham sempre o poder de ser mais
rápidas, deixando apenas frações para suas andanças no meio das letras.
A íris parou diante da porta, ainda fechada,
ajeitou os cabelos para demostrar equilíbrio ou recuperar o mesmo, que longe
estava de sentir. E assim ainda agitada entrou na sala.
O invasor apenas olhou com um sorriso matreiro para
ela e para o relógio mostrando que estava atrasada. Sorriu observando sua calma
aparente.
A íris sentou-se em seu lugar, abriu a gaveta
retirando seus papéis e a caneta, vendo que o tac..tac do pc voava. O seu olhar
dirigiu-se ao invasor que capturou quase engolindo sua audácia. Agitaram-se
mais as águas verdes e isso era impossível de esconder, ele já conhecia todas
suas nuanças.
Silenciosa acabou por se concentrar na sua escrita,
quando um envelope foi enviado deslizando na mesa. Sempre tudo no mais
fantasmagórico silêncio.
Ela sabia que devia pegar, mas ficou como uma
estátua, em um pedaço do tempo apenas para desafiar o invasor incisivo. Que
simplesmente não esperou. Puxou sua mão sem palavra alguma num toque que até
ele sentiu, mas quebrou a magia, colocando a carta na palma da sua mão.
Num gesto rápido e afobado ato o fez ficar sisudo,
o choque do primeiro contato foi eletrizante, e suficiente para o olhar ficar
acinzentado e ganhar o jogo desta vez.
O sorriso desafiava, apesar de meigo mas ciente do
ocorrido as emoções do invasor existiam.
Resolveu não abusar da sorte, abriu a carta e ficou
pasma ao ler. Era nada mais nada menos, que um convite para um baile de
máscaras e seu para seria o invasor!!!
Quem sorriu agora em plena maldade fora ele,
ficando à vontade na cadeira olhava-a sem pressa como um falcão analisando cada
centímetro da sua presa ou seja do seu rosto. O jogo revertera em poucos
segundos o convite aniquilara sua ousadia. Tudo parou até o tempo ao redor.
A sala apenas observava tudo consciente das
emoções, que agora brincavam com seus dois hóspedes.
Há muito tempo que o espaço não sentia tanto
glamour dos sentimentos, reviver estas sensações deixava a sala viva colorida
em sua nobreza.
O sol já nem pensava mais em suas artes com o vento
e a cortina, que passaram também a assistir o novo quadro que se pintava no
local.
A mesa sentia toda vibração das mãos que pousavam
em seu tampo, toques agitados, corridos, ansiosos.
O tapete sentia o compasso da mudança da posição
dos pés, que em harmonia se mexiam em seus espaços em uma dança silenciosa e
harmoniosa.
A arca muda apenas assistia, enquanto o vaso sobre
a mesa sorria antevendo todas as fantasias ali traçadas nas linhas do pc ou nas
linhas do papel que agora mudavam invadindo espaços ora na prosa ora na poesia.
Ainda escondidos o pc se deixava levar pelas mãos da brisa voando em versos enquanto
o vento agitava o papel rodopiando nos caminhos da prosa. Depois quando tudo
serenava os dois hóspedes voltavam a desfilar cada um em sua melodia o invasor
na prosa e o olhar esverdeado na poesia.
O relógio aponta a hora, novamente o tempo fica
curto, os papéis são guardados na gaveta apressadamente, na agitação dos
segundos o convite acaba caindo.
O invasor se coloca obstruindo o caminho, pega o
convite com a caneta assinala o horário mostrando que não admite atrasos.
E tentando mostrar que tem a força, dobra o convite
nas mãos do olhar e as fecha alisando numa atitude de pura audácia prendendo
entre as suas num tempo a mais do relógio.
O toque é suave e aquece ambos que estáticos se
prendem a olhar ambos o envolvimento das mãos.
A íris lança faíscas do mais puro verde, e foge
ainda sentindo a sonora gargalhada da brincadeira ousada do invasor que mais
parece um enigmático falcão.
Longe do poder do invasor o olhar respira
compassadamente, pensando agora como ir neste baile do qual não pode fugir e
como estaria fantasiado o invasor?
Mas tudo isso é algo para pensar em um outro
momento quando o tempo em sua lacuna deixar a íris viajar em mais uma aventura.
Enquanto isso o desfile da prosa e da poesia fica
no ar até o tempo certo aparecer ...
Marli Franco
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