O Olhar e a Sala-
Capítulo I - Espaço Irreal
Um olhar descuidado invade um espaço irreal, pousando em uma sala fora de época. Marli Franco
A sala é aberta sem pudores, sob o panorama da íris
verdes. Livre e sem licença inspeciona entusiástico o cômodo de cortinas
fechadas, que dorme na penumbra perdendo o sol do outono lá fora.
O móvel de madeira nobre como pouco se vê tudo
cravejado e esculpido.
Um tapete com ares orientais segura a mesa de
imbuía. Onde junto descansam as cadeiras com sua suntuosidade das guardas
altas, revelando que nelas os ilustres se sentaram.
O carrilhão mostra bem a passagem do tempo e o
torna mais rico como peça importante de um antiquário.
No lado da mesa esta sua majestade a “Arca” toda
rebuscada em um rococó perfeito, suas saliências são orgulho e sua madeira
exala o perfume das estórias já vividas.
Nas suas gavetas abertas, no afã do mistério, o
linho branco e bordado com certeza salienta a elegância do recinto.
Os copos de cristais ampliam o olhar do visitante
imaginando os brindes ali registrados.
A porcelana delicada e fina fecha o requinte das
relíquias que se mostram no alto do silêncio.
A mesa é a imperatriz no centro da sala. Faz-se de
rainha carrega a coroa de um vaso com suas flores, na postura de um desafio
mudo; pontuando que a sala tem um dirigente vigilante para todos que nela
adentrarem, mesmo que apenas com um simples olhar deslocado.
Um raio de sol penetra, investiga rasgando pela
janela a penumbra com ajuda do vento seu fiel escudeiro. Beija as margaridas e
jasmins do vaso e foge matreiro sob o olhar ciumento do guardião, o cinzeiro.
O vento lança ainda antes da partida, um olhar de
cobiça na cortina. E dissimulado afaga brincalhão. Movendo o tecido de renda,
que brilha do alto dos trilhos caindo em cascata no seu branco virginal até o
chão.
A sala magnífica continua estática depois de cada
badalada, linda como uma rosa.
Mas sem o alimento da vida fica assim... Como
pétalas desfolhadas, esperando serem colhidas por mãos amorosas. Que nelas
venham beber, o licor da vida em seu interior.
O olhar de esmeralda, meticuloso, depois de
respirar a magia de uma época longínqua, sai fechando a porta silenciosamente.
Deixa para traz apenas um sorriso de deslumbramento
com tanta beleza.
A sala sorrateiramente, sem deixar o olhar
perceber, rapta o sorriso doce.
E guarda no cristal das folhas secas, para ser mais
um aroma, das muitas estórias ali registradas.
Marli Franco
Direitos Autorais Reservados®
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Agradeço a visita!
A sua presença e comentário são um privilégio precioso.
Volte sempre é uma honra te receber em meu humilde espaço.
Um beijo de violetas.