O Olhar e a Sala
Capítulo II......Refúgio
O olhar surge na sala com a melodia do imprevisto.
Surpreendendo alegremente a mobília, na calma costumeira do espaço requintado.
Em uma destas visitas, o olhar agora toma a sala
como seu refúgio aconchegante, onde pode livremente mergulhar na essência da
escrita.
Na sinfonia do silêncio que embala o recinto, o
olhar abre a gaveta agora sua cúmplice que guarda seus segredos. Esconde ainda
suas ferramentas amareladas pelo tempo. Que servem para cingir as letras na
magia do pensamento.
No meio das tardes de inverno é que o olhar foge
para sala. Assiste delirante a preguiçosa dança enamorada da cortina com o
vento que de longas datas, vem crescendo o enlevo. Como todo caso clandestino o
olhar percebeu o triângulo amoroso deste namoro. Quando faceira a cortina, para
suplício do vento alonga sua amizade com o sol ...no doce calor do inverno.
As horas passadas na sala são doces momentos de
reclusão deste olhar, de encontros sublimes com a imaginação que rege o tempo
fora de órbita natural.
O tempo que sempre faz suas marcas assinala suas
estórias pintadas nas mil faces da emoção. E neste aconchego da tarde marota,
vai passando, envolvendo, acariciando o encontro harmonizado do olhar
displicente com os versos da vida nas linhas da prosa e da poesia.
Quando o relógio toca sua badalada, o olhar guarda
seus segredos, dobrado nos papéis amarelados. Coloca para adormecer as
ferramentas, na gaveta seu cofre secreto e joga um beijo cúmplice para cortina.
Que sabe é chegada à hora de ser fechada a janela, com seus amores lá fora...
Até um outro momento da sua visita.
A sala agora já contém outra faceta, seu visitante
este mais assíduo à medida que a poesia ou a prosa aprisionam seu coração. A
sua fuga fica com intervalos mais curtos a cada dia que passa ele se torna
parte da sala; como a mobília ainda que não saiba deste único segredo da
estória.
A mobília já se acostumou com seus passos suaves e
sabe que o visitante um dia irá tocar com seu olhar outros cantos adormecidos
da sala de jantar. E a sala por sua vez irá ainda desvendar o seu olhar além
imensidão do seu sonhar.
A porta range no silêncio... O olhar lança o
sorriso costumeiro ...Vai saindo, com os passos leves da promessa que no
imprevisto do tempo voltará...
Deixando em seu rastro, agora na sala vazia, com
perfume da poesia pairando no ar...
Entra o vento de surpresa
Quando aberta fica a janela
Abraça ansiosa a cortina
Que faceira se entrega na alegria.
Sem preâmbulos a arfar de amor
O vento contorna todos os adornos do tecido
Afugenta todos os silêncios estagnados
Na melodia do seu infinito desejo.
A cortina sem perceber se solta
Na cadência da suave melodia
Que o vento beija tocando
As dobras do tecido acetinado.
Quando o sol assistindo a tudo ciumento
Acaba infiltrando neste namoro
Esconde-se rápido no horizonte
Para que a janela na hora do poente se feche
Separando assim, o vento da amada cortina
Sua única poesia em cada nascer do dia.
Marli Franco
Direitos Autorais Reservados®
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Agradeço a visita!
A sua presença e comentário são um privilégio precioso.
Volte sempre é uma honra te receber em meu humilde espaço.
Um beijo de violetas.