O Olhar e a Sala
Capítulo III.......Outono
O outono se apresenta rondando a primavera, os dias
vãos morosamente voando ao encontro das flores.
A sala anda esquecida, sem visitas apenas o
silencio companheiro do cotidiano.
Tem uma caneta que foi esquecida, e o papel ainda
tem letras voando nas linhas.
Do vaso vem o perfume de gerânios como se tivessem
sido colhidos neste exato momento.
A cortina está sempre na espera ansiosa do olhar
que proporciona seus encontros felizes com o rei Sol que aquece seus sonhos.
A sala nesta fase se embriaga de fantasia, o jardim
lá fora já despontar as violetas, madressilvas, rosas e margaridas.
As borboletas fazem a dança anunciando que logo
chega a sua estação.
O olhar desta vez foi intempestivo, nem parou na
mesa que enciumada viu bem sua direção para arca.
A cortina deu seu agito, mas o olhar fez da sala
apenas uma passagem. Seu mundo interior perdeu o canal das letras no meio da
sobrecarga.
O refúgio da sala ficou aprisionado na realidade da
lógica. O real veio como uma enxurrada lamacenta manchando todo sonho. Tragando
a ilusão, impondo seus pontos desconexos, que aterrorizam a delicadeza das
verdes íris. As lembranças estão no ar pedindo pelos versos, mas a caneta esta
jogada amedrontada, tem medo das correntes rimadas e das fitas da métrica que
sem licença amordaçam suas estrofes.
O abstrato teve só um segundo do tempo para voar.
Pousar no recanto escolhido, sair fugindo antes que perdesse as forças e
fechasse a porta para voar nas linhas da poesia...
O olhar esgueira na sala
Silencioso no fundo da alma
O toque delicado soa no assoalho
A mesa enciumada nota a presença.
Sem o sorriso fecha a cortina
Nem fresta da janela permite
Para revolta do vento e do sol
Que se unem na busca da amada
O dia de hoje a metade já alcançou
É tempo de abrir as gavetas da arca
Que isolada na sala se faz de soberana
Revela os mistérios do senhor do tempo.
Sem pressa alisa o puxador
Abre paulatinamente escutando o rangido do tempo
Encontram fitas, fotos e papeis descansando
Cúmplices do tempo usado e amarelado.
As mãos tremulam tocam timidamente
Percorre o espaço das gavetas sem pressa
A nostalgia embarga o pensamento
A cortina se mexe pedindo ar.
Na tormenta das lembranças
Deixam o olhar as gavetas
Abre as janelas para o sol e o vento
Sai apressado fechando a porta do esquecimento.
Marli Franco
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O prazer de navegar em seu blog é incomparável!!! lindo e suave, sereniza nosso coração!!
ResponderExcluirUm grande beijo querida, siga assim feliz e em estado de graça!!