O Olhar e a Sala
Capítulo IV.....O
Invasor
A porta da sala está fechada, o olhar costumeiro se
assusta e força o trinco entrando agitadamente.
O assombro ao ver o invasor de costas é assustador.
Como se fosse congelada, o olhar verde acinzentado se veste de um brilho verde
esmeralda tal a sua surpresa e agitação.
O invasor, não se abala com sua entrada, está
plenamente acomodado a sala é seu domínio, o espaço é território altamente
conhecido.
Sua figura aí faz parte tanto quanto as mobílias.
Como um viajante que retorna ao ninho a sala o
acolhe como seu senhor no espaço, sua figura ardente e dominadora.
O olhar esmeralda recompondo-se vistoria a sala e
os detalhes para notar se tudo ainda está presente. Mas apesar de nada faltar,
não está com a mesma composição.
O estilo do invasor tomou posse da sala e ela
permitiu toda a mudança servilmente e ainda regozija com sua presença.
O vento está lá namorando a cortina, o sol lá fora
olhando ciumento sem poder entrar.
A arca está formosa com as gavetas reviradas
sorrindo ao invasor que com suas mãos acariciou seus detalhes.
O tapete continua estagnado sustentando sua musa a
mesa, que no momento só tem olhos para servir ao invasor segurando suas
abusadas irreverências.
O caos está instalado na mesa, o vaso do centro
ficou sufocado fora de foco com a chegada do mais novo inquilino o. Um sujeito
moderno desfocado no contexto da sala. Mas que como seu dono é espaçoso e
arrogante, dominador, como um nobre dos tempos atuais. E todo ambiente fica
relegado como míseros mortais da classe renascentista da sala.
No resto da mesa potes e mais potes de comidas
prontas misturadas aos talheres de prata e copos de cristais criando um choque
espantoso, parecendo tudo aos olhos um campo de batalha entre a renascença e o
modernismo.
O invasor lá apossado ainda tinha todos os
disquetes empilhados ao lado dos potes.
A íris esmeralda se senta bem em frente ao invasor,
olha-o com faíscas de um ícone renascentista e em troca recebe um sorriso audaz
de quem é dono e chegou para brilhar.
A íris pega na gaveta da mesa suas armas a caneta e
seus papéis, sentindo o silencio de outrora tem agora o tac-tac do invasor e
terá que se acostumar a sala já o acolheu.
Envolvida em um impulso, ela levanta-se pega uma
cesta de vime e retira da mesa todos os potes de comida do sorridente
piquenique. Coloca o vaso e a toalha em seus devidos lugares dos quais recebe
um suspiro de alívio. Retira da arca a bandeja de prata, o cálice de água e a
jarra que coloca comportadamente na frente do invasor. Num claro recado que
podia brilhar no espaço, mas sem estardalhaços.
O invasor apenas sorri numa evidente resposta de
que estava consciente de toda agitação que a íris estava sentindo. E com seu
silêncio cheio de palavras continua teclar seu texto vigilante ao respirar da
íris. Ele se posiciona na cadeira demonstrando que quem roubou o refúgio foi
ela e que ele é o senhor da sala.
A íris agita seu brilho, sabe que é verdade; as
cartas encontradas na gaveta da arca eram dele repletas de viagens, amores,
estudos e desamores, reflexões. Ela sabe que tudo ali é conhecimento dele, os
livros dentro do fundo da arca, eram a maior prova com seu nome cravado em
letras douradas.
O invasor assente com suas mãos que ela deve
permanecer e que seu lugar é exatamente aí perto e distante em horizontes na
mesma tábua daquela mesa. As suas mãos não admitem outra posição. Ele a quer
assim silenciosa com sua caneta soando apenas o som da virada das folhas.
A íris sente-se fragilizada, acorrentada a vontade
do invasor, presa nos grilhões do seu sorriso, despida no movimento das suas
mãos audazes. Ela esconde seu brilho de rebeldia abaixando as pálpebras,
transporta-se ao papel em uma enxurrada de palavras. O invasor desata em uma
sonora gargalhada de vencedor na batalha calada ali travada, entre ele e a íris
esverdeada que tanto o instiga.
Ela o olha, brilha em raios verdes de quem se
submete no momento instalado, mas agirá dentro das asas da sua liberdade ainda
que sejas pequena perante o forte invasor.
O vento se agita na cortina avisando que a hora da
lua está chegando, tem que se despedir da sua amada. O invasor afasta a cadeira
e com passos firmes vai até a janela fechando sem perceber as nuanças ali
vividas.
A sala entra na penumbra, o invasor conhecedor do
espaço acende a luz dos candelabros e liberta seu sorriso mostrando que vai
abrir a caixa de vime.
A íris reage lançando seu brilho na jarra d’água.
Ele fecha o sorriso e aceita sua vontade. Vai na arca e abre uma das portas
aciona o aparelho de som inundando a sala com uma música de final de tarde.
A íris brilha aprovando e volta mergulhar em sua
folha. O invasor se aquieta e se senta em seu posto de volta, ao tac-tac do seu
teclado.
A íris já mergulhada no ardor da sua fantasia, sabe
que o invasor acompanha suas delicadas linhas.
O invasor é altamente encantador, dono de uma
inteligência magnifica e consegue atingi-la no seu ponto mais vulnerável.
Mostrando o seu domínio faceiro conquistando-a com
as terras riquíssimas do seu texto.
A ela só resta no momento se soltar nas linhas da sua poesia:
A sala honra o invasor
Nas paredes dos papeis viajados
Desvendando os mapas secretos da íris
Perfumes de outrora confinados
No meio de ardentes versos.
O vento dança na cortina da ilusão
Nas mãos do invasor competente
Jogada de um olhar a cintilante íris
Desnudada de suas frágeis letras
Em entregas de flamejantes das quimeras.
A arca conjuga a inspiração do invasor
Nas palavras que nascem como estrelas
Descobre na íris os desejos que o invade
Arfando em beijos emoldurados
Nos braços que se fecham vorazes.
O tapete transporta a recente ilusão
Solicita no encanto de cada verso
As caricias unindo em uma só paixão
Uma só poesia vivida na prosa
As viagens das linhas em ebulição.
Marli Franco
Direitos Autorais Reservados®
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