"A minha escrita permeia sentidos românticos,

restaura a solitude e acolhe a beleza da vida

para ser-te Poesia."

Marli Franco


Conto * O olhar e a sala - Capítulo IV.....O Invasor





O Olhar e a Sala

Capítulo IV.....O Invasor

 

A porta da sala está fechada, o olhar costumeiro se assusta e força o trinco entrando agitadamente.

O assombro ao ver o invasor de costas é assustador. Como se fosse congelada, o olhar verde acinzentado se veste de um brilho verde esmeralda tal a sua surpresa e agitação.

O invasor, não se abala com sua entrada, está plenamente acomodado a sala é seu domínio, o espaço é território altamente conhecido.

Sua figura aí faz parte tanto quanto as mobílias.

Como um viajante que retorna ao ninho a sala o acolhe como seu senhor no espaço, sua figura ardente e dominadora.

O olhar esmeralda recompondo-se vistoria a sala e os detalhes para notar se tudo ainda está presente. Mas apesar de nada faltar, não está com a mesma composição.

O estilo do invasor tomou posse da sala e ela permitiu toda a mudança servilmente e ainda regozija com sua presença.

O vento está lá namorando a cortina, o sol lá fora olhando ciumento sem poder entrar.

A arca está formosa com as gavetas reviradas sorrindo ao invasor que com suas mãos acariciou seus detalhes.

O tapete continua estagnado sustentando sua musa a mesa, que no momento só tem olhos para servir ao invasor segurando suas abusadas irreverências.

O caos está instalado na mesa, o vaso do centro ficou sufocado fora de foco com a chegada do mais novo inquilino o. Um sujeito moderno desfocado no contexto da sala. Mas que como seu dono é espaçoso e arrogante, dominador, como um nobre dos tempos atuais. E todo ambiente fica relegado como míseros mortais da classe renascentista da sala.

No resto da mesa potes e mais potes de comidas prontas misturadas aos talheres de prata e copos de cristais criando um choque espantoso, parecendo tudo aos olhos um campo de batalha entre a renascença e o modernismo.

O invasor lá apossado ainda tinha todos os disquetes empilhados ao lado dos potes.

A íris esmeralda se senta bem em frente ao invasor, olha-o com faíscas de um ícone renascentista e em troca recebe um sorriso audaz de quem é dono e chegou para brilhar.

A íris pega na gaveta da mesa suas armas a caneta e seus papéis, sentindo o silencio de outrora tem agora o tac-tac do invasor e terá que se acostumar a sala já o acolheu.

Envolvida em um impulso, ela levanta-se pega uma cesta de vime e retira da mesa todos os potes de comida do sorridente piquenique. Coloca o vaso e a toalha em seus devidos lugares dos quais recebe um suspiro de alívio. Retira da arca a bandeja de prata, o cálice de água e a jarra que coloca comportadamente na frente do invasor. Num claro recado que podia brilhar no espaço, mas sem estardalhaços.

O invasor apenas sorri numa evidente resposta de que estava consciente de toda agitação que a íris estava sentindo. E com seu silêncio cheio de palavras continua teclar seu texto vigilante ao respirar da íris. Ele se posiciona na cadeira demonstrando que quem roubou o refúgio foi ela e que ele é o senhor da sala.

A íris agita seu brilho, sabe que é verdade; as cartas encontradas na gaveta da arca eram dele repletas de viagens, amores, estudos e desamores, reflexões. Ela sabe que tudo ali é conhecimento dele, os livros dentro do fundo da arca, eram a maior prova com seu nome cravado em letras douradas.

O invasor assente com suas mãos que ela deve permanecer e que seu lugar é exatamente aí perto e distante em horizontes na mesma tábua daquela mesa. As suas mãos não admitem outra posição. Ele a quer assim silenciosa com sua caneta soando apenas o som da virada das folhas.

A íris sente-se fragilizada, acorrentada a vontade do invasor, presa nos grilhões do seu sorriso, despida no movimento das suas mãos audazes. Ela esconde seu brilho de rebeldia abaixando as pálpebras, transporta-se ao papel em uma enxurrada de palavras. O invasor desata em uma sonora gargalhada de vencedor na batalha calada ali travada, entre ele e a íris esverdeada que tanto o instiga.

Ela o olha, brilha em raios verdes de quem se submete no momento instalado, mas agirá dentro das asas da sua liberdade ainda que sejas pequena perante o forte invasor.

O vento se agita na cortina avisando que a hora da lua está chegando, tem que se despedir da sua amada. O invasor afasta a cadeira e com passos firmes vai até a janela fechando sem perceber as nuanças ali vividas.

A sala entra na penumbra, o invasor conhecedor do espaço acende a luz dos candelabros e liberta seu sorriso mostrando que vai abrir a caixa de vime.

A íris reage lançando seu brilho na jarra d’água. Ele fecha o sorriso e aceita sua vontade. Vai na arca e abre uma das portas aciona o aparelho de som inundando a sala com uma música de final de tarde.

A íris brilha aprovando e volta mergulhar em sua folha. O invasor se aquieta e se senta em seu posto de volta, ao tac-tac do seu teclado.

A íris já mergulhada no ardor da sua fantasia, sabe que o invasor acompanha suas delicadas linhas.

O invasor é altamente encantador, dono de uma inteligência magnifica e consegue atingi-la no seu ponto mais vulnerável.

Mostrando o seu domínio faceiro conquistando-a com as terras riquíssimas do seu texto.

A ela só resta no momento se soltar nas linhas da sua poesia: 


A sala honra o invasor

Nas paredes dos papeis viajados

Desvendando os mapas secretos da íris

Perfumes de outrora confinados

No meio de ardentes versos.

 

O vento dança na cortina da ilusão

Nas mãos do invasor competente

Jogada de um olhar a cintilante íris

Desnudada de suas frágeis letras

Em entregas de flamejantes das quimeras.

 

A arca conjuga a inspiração do invasor

Nas palavras que nascem como estrelas

Descobre na íris os desejos que o invade

Arfando em beijos emoldurados

Nos braços que se fecham vorazes.

 

 

O tapete transporta a recente ilusão

Solicita no encanto de cada verso

As caricias unindo em uma só paixão

Uma só poesia vivida na prosa

As viagens das linhas em ebulição. 

Marli Franco

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