"A minha escrita permeia sentidos românticos,

restaura a solitude e acolhe a beleza da vida

para ser-te Poesia."

Marli Franco


Conto * O Olhar e a Sala- Capítulo III.......Outono


O Olhar e a Sala

Capítulo III.......Outono

 

O outono se apresenta rondando a primavera, os dias vãos morosamente voando ao encontro das flores.

A sala anda esquecida, sem visitas apenas o silencio companheiro do cotidiano.

Tem uma caneta que foi esquecida, e o papel ainda tem letras voando nas linhas.

Do vaso vem o perfume de gerânios como se tivessem sido colhidos neste exato momento.

A cortina está sempre na espera ansiosa do olhar que proporciona seus encontros felizes com o rei Sol que aquece seus sonhos.

A sala nesta fase se embriaga de fantasia, o jardim lá fora já despontar as violetas, madressilvas, rosas e margaridas.

As borboletas fazem a dança anunciando que logo chega a sua estação.

O olhar desta vez foi intempestivo, nem parou na mesa que enciumada viu bem sua direção para arca.

A cortina deu seu agito, mas o olhar fez da sala apenas uma passagem. Seu mundo interior perdeu o canal das letras no meio da sobrecarga.

O refúgio da sala ficou aprisionado na realidade da lógica. O real veio como uma enxurrada lamacenta manchando todo sonho. Tragando a ilusão, impondo seus pontos desconexos, que aterrorizam a delicadeza das verdes íris. As lembranças estão no ar pedindo pelos versos, mas a caneta esta jogada amedrontada, tem medo das correntes rimadas e das fitas da métrica que sem licença amordaçam suas estrofes.

O abstrato teve só um segundo do tempo para voar. Pousar no recanto escolhido, sair fugindo antes que perdesse as forças e fechasse a porta para voar nas linhas da poesia...

 


O olhar esgueira na sala

Silencioso no fundo da alma

O toque delicado soa no assoalho

A mesa enciumada nota a presença.

 

Sem o sorriso fecha a cortina

Nem fresta da janela permite

Para revolta do vento e do sol

Que se unem na busca da amada

 

O dia de hoje a metade já alcançou

É tempo de abrir as gavetas da arca

Que isolada na sala se faz de soberana

Revela os mistérios do senhor do tempo.

 

Sem pressa alisa o puxador

Abre paulatinamente escutando o rangido do tempo

Encontram fitas, fotos e papeis descansando

Cúmplices do tempo usado e amarelado.

 

As mãos tremulam tocam timidamente

Percorre o espaço das gavetas sem pressa

A nostalgia embarga o pensamento

A cortina se mexe pedindo ar.

 

Na tormenta das lembranças

Deixam o olhar as gavetas

Abre as janelas para o sol e o vento

Sai apressado fechando a porta do esquecimento.

 

Marli Franco

Direitos Autorais Reservados®




Um comentário:

  1. O prazer de navegar em seu blog é incomparável!!! lindo e suave, sereniza nosso coração!!
    Um grande beijo querida, siga assim feliz e em estado de graça!!

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Agradeço a visita!
A sua presença e comentário são um privilégio precioso.
Volte sempre é uma honra te receber em meu humilde espaço.
Um beijo de violetas.