"A minha escrita permeia sentidos românticos,

restaura a solitude e acolhe a beleza da vida

para ser-te Poesia."

Marli Franco


O Gato e o Guarda-Chuva

Delírio!!!!!!

No ponto de ônibus mais uma vez abarrotado, a paulicéia desvairada em dias de chuva , lembra salão de carnaval a balbúrdia é geral.

Eu já acostumada com este mar de água e de gente tentando se apertar no abrigo do ponto de ônibus, fugindo da chuva ,fui violentamente empurrada.

Assustada tentei saber a razão deste empurrão que me jogou fora do abrigo, e nada mais nada menos era um tal de Sr. Gato.

Sim caros amigos, um gato meio estranho que no início tentei me afastar. Mas ele veio para cima de mim ,com uma torrente de palavras me acuado. Sem deixar nem sequer eu abrir a boca, que dirá afastá-lo de meus finos braços que já estavam empresados naquela parede gelada, pelo peso do Sr. Gato, que diga de passagem parecia simplesmente uma bola de basquete, a gordura era sólida.

Ah! Nesta empresada ele deixou cair seus óculos pretos com aros enormes que me engoliam sem piedade.

As outras pessoas olhando, assistindo aquele filme em câmara lenta no meio de uma ilha, de uma avenida de trânsito louco.

Tentei me afastar , mas qual acuada daquele jeito simples fato de mexer meus braços foi motivo suficiente para o gato declamar em brados versos de Lord Byron. Eu acabei me perdendo no meio da declamação ,esqueci de quão acuada estava e como em dias de chuva Sampa é loucura geral.

Um guarda-chuva mal colocado bateu na cabeça do pobre gato.O coitado caiu no chão levando-me junto.Suas mãos enormes pareciam garras, marcavam os meus braços sem soltar.

As mulheres se juntaram ao redor com seus guarda-chuvas tentando me ajudar. O pobre gato gritava no meio dos versos a palavra assaltantes da lua...Assaltantes da lua que seria?

Os meus braços pareciam palitos em suas mãos, eram quase arrancados de tanto que me apertavam e sacudiam misturando os poemas de Byron e outros ainda desconhecidos por mim.

Eu ali perdida fã de poesia, só tentava saber o final do poema. As mulheres com seus guarda-chuvas berravam que o coitadinho tinha ficado neste estado por causa de tento estudo.

Uma das mulheres resolveu no meio daquela balbúrdia , abrir a mala do gato para encontrar seu endereço.Mas no meio do temporal começou voar livros para todos os lados. Neste momento eu fiquei louca tentando salvar da chuva

os livros tão bem encadernados que lembravam belos diários de um solitário.

Mas junto com os livros pulavam tantos panfletos de viagens e de disk.. Sim disk pizza , disk comida chinesa, disk comida grega, disk café turco, disk..disk..comida comida .comida...

Olhei aquilo voando guia abaixo na enxurrada e deixei ,mesmo porque o gato precisava mesmo de um regime.Preocupei-me em salvar os livros, apesar do meliante ainda me manter aprisionada nas suas garras deitado ali no chão.Eu parecia mais estar em uma gangorra em cima daquela barriga enorme. Que no momento da queda foi onde ele me arrastou.

As mulheres que se aproximavam cada vez mais sufocando com seus enormes guardas-chuvas.E o coitadinho do gato gritava palavras desconexas armas...armas....praia e mais Lord Byron.

No alvoroço uma destas mulheres gritavam que seu QI tinha sido o causador desta situação.
Com a testa ainda transpirando,sua calvície gotejando, senti que devia tomar uma providência antes que o gato se perdesse de vez neste inconsciente livre e afoito.

Com calma pedi para as mulheres agarrarem suas mãos, e assim consegui me soltar das amarras.Tirei um lenço que prendia meus cabelos castanhos e com a suavidade do tecido enxuguei sua testa.Coloquei sua cabeça em meu colo e assim sua agitação passou.

Aos poucos ele parecia estar voltando de um sonho, olhou-me incrédulo e disse que devia ter desmaiado de fome , o calor que sentia era tanto que parecia estar em uma praia.

Olhando o gato agora parecia até charmoso, devia ter uns 54 anos ou 57 não sei... Mais alto que eu, com aquele olhar de quem sabe tudo intimidou-me. Levantei batendo água da saia, devolvi os livros que bem gostaria de levar embora e deixar o gato sem o Lord Byron.
Entreguei a sua pasta e peguei meu ônibus deixando ele aos cuidados das mulheres que ele tanto tinha chamado de assaltantes.

O ônibus foi distanciando –se do ponto e eu com meus pensamentos...

Que seria este delírio do gato?

Talvez tenha sido atingido por aqueles versos que tanto declamava.

Mas gato é assim mesmo mia..mia..mia..


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